quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A pílula da inteligência vem aí. Você tomaria?

E aí pessoal...

Estava foheando a revista superinteressante e vi um reportagem que falava sobre um tipo de pílula da inteligência. Fiquei um tanto cuioso e resolvi dar uma pesquisada na net. Esse tipo de medicamento, acreditem, é usado para pessoas com doenças mentais, no entanto, de acordo com vários depoimentos, elas funcionam como estimulantes de raciocínio e de memória nas pessoas sadias. Há quem goste ou não dessa ideia, estudos estão sendo feitos em busca de respostas e da captação de prováveis efeitos colaterais a longo prazo. Deem uma na reportagem abaixo, que este assunto é, no mínimo, interessante.

A pílula da inteligência vem aí. Você tomaria?

Imagine uma pílula que não causasse efeitos colaterais, barata, e que depois de tomar seu QI aumentasse vários pontos. Você usaria?

Um grupo de cientistas, verdadeiros pesos-pesados na área de neurociência, saúde pública, direito e ética, lançou esta semana um manifesto na prestigiosa revista Nature, pedindo para acelerar as pesquisas -e se possível a liberação para consumo- de drogas que aumentam a inteligência.

A idéia seria, caso as pesquisas não demonstrem nenhum efeito colateral, que adultos tivessem a liberdade de ingerir livremente essas substâncias, sem nenhum tipo de criminalização.

Que um grupo de cientistas e juristas desse porte peça a liberação desse tipo de “doping” mental pode parecer uma loucura para muitos, mas a leitura atenta do artigo dá algumas pistas sobre os reais motivos.

O fato é que, como veremos, o problema já está colocado na sociedade, e ele exige respostas científicas -que só serão conseguidas mediante muita pesquisa-, e análise dos aspectos éticos por parte da sociedade.

QUESTÃO CIENTÍFICA
Não é de hoje que pesquisadores tentam descobrir medicamentos para tratar doenças cerebrais, como o mal de Alzheimer, a esquizofrenia, o transtorno de déficit de atenção – hiperatividade (TDAH), o mal de Parkinson, etc.

Muitas dessas doenças provocam danos cognitivos devastadores, e o paciente passa a ter parte de suas atividades mentais comprometidas, tanto na sua capacidade de aprendizado, memorização, compreensão, linguagem, distúrbios de sono, etc.

Nos últimos anos, o uso de algumas drogas como a Ritalina, Adderall, modafinil, donepzil, entre outras, provocaram melhoras importantes no quadro clínico desses pacientes, permitindo uma notável recuperação na qualidade de vida. Entretanto, algumas dessas drogas passaram a ser consumidas (ilegalmente ou sem prescrição) por indivíduos sadios, os quais também descreveram melhoras no desempenho intelectual.

Pesquisas mostram que aproximadamente 7% dos alunos universitários dos Estados Unidos já consomem essas substâncias, e em alguns campi, o consumo atinge 25% dos estudantes.

Entretanto, como esses medicamentos são recentes ainda não existem suficientes estudos que nos permitam saber quais os efeitos colaterais do se uso a longo prazo, principalmente quando ingeridos por indivíduos sadios. Não há estudos que avaliem ao certo quanto melhor o cérebro funciona, quanto aumenta nosso QI, nem os efeitos dessas drogas sobre o cérebro -em formação- de crianças e adolescentes.

Tampouco se sabe se o uso desses compostos provoca apenas uma melhora temporária na capacidade cognitiva, ou se as alterações aumentam de fato a capacidade de aprender, através de mudanças permanentes da organização cerebral. Mas como a droga já está sendo consumida, o pedido dos cientistas para aumentar as pesquisas (de preferência por instituições públicas) faz todo sentido.

QUESTÃO ÉTICA
O surgimento deste tipo de drogas coloca uma série de desafios éticos que, uma vez respondidas as questões científicas, devem ser analisados pela sociedade. Apenas para citar alguns dos problemas que já estão surgindo:

- O exercito dos Estados Unidos atualmente subministra aos soldados alguns desses medicamentos, sendo que o consumo não pode ser recusado pelos mesmos. +Sob efeito dessas substâncias, os soldados mostram um melhor desempenho, maior capacidade de discriminação, e reflexos mais apurados. As conseqüências são óbvias. Podem vir a se transformar em máquinas de matar extremamente eficientes.

-Seria ético que um empresário passasse a exigir que seus funcionários fizessem uso desses medicamentos para aumentar o desempenho e a produtividade? A exigência formal não seria nem necessária. A maior produtividade de um funcionário que faz uso da droga poderia obrigar seu colega a também ingeri-la para manter seu emprego.

-Seria correto que um colégio, para melhorar o desempenho escolar dos alunos, incentivasse o uso desses medicamentos? Insano? É bem provável que muitas escolas já estejam fazendo isso com a Ritalina, alegando que os alunos não aprendem por que são hiperativos.

-E num vestibular? Seria justo que apenas alguns estudantes utilizassem esse doping mental e outros não? Seria justo que apenas os que podem pagar por esses medicamentos possam fazer uso deles em detrimento dos outros?

-Caso não sejam observados efeitos colaterais importantes, quais seriam as conseqüências globais para a sociedade se todos os indivíduos tivéssemos acesso a drogas que nos tornem mais inteligentes?

É isso aí. Parece que o futuro chega cada vez mais rápido. O antídoto para não nos pegar desprevenidos é informação, informação, e mais informação. Ficar mais inteligente mediante o uso de drogas pode parecer antinatural.

Mas não mais antinatural que a roupa que usamos, a casa onde moramos, o carro que nos transporta, a medicação que tomamos ao longo da nossa vida para viver mais e melhor, os óculos que estou usando para escrever este artigo, e o papel sobre o qual ele estará escrito amanhã.
Você não acha?


Do autor: Roelf Cruz Rizzolo é professor de Anatomia Humana da Unesp, câmpus de Araçatuba, Este artigo foi publicado inicialmente na coluna Ciência do jornal Folha da Região, em Araçatuba, SP

Fonte: Towards responsible use of cognitive-enhancing drugs by the healthy; Nature, doi:10.1038/ 456702a; Published online 7 December 2008; Henry Greely e cols.

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