quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ensaio de Eni Orlandi: "Leitura: de quem para quem"

Pessoal,

Gosatria de indicar-lhes um ensaio da professora Eni Orlandi, da UNICAMP, sobre o que a leitura representa em nossa sociedade e a forma como nela é disseminada. Abaixo, segue uma resenha que eu fiz sobre este texto para a faculdade.


Resenha do texto "Leitura: de quem para quem"

Com o intuito de propor uma nova forma de educar e visando um ensino coerente com a pedagogia de transformação, Orlandi nos apresenta uma reflexão acerca do que está por trás do sistema educativo tradicional, situando “o que”, o “de quem” e o “para quem” da leitura. Aponta também qual é a relação estabelecida entre as classes sociais e o processo de ensino-aprendizagem em vigor atualmente. Para tal, utiliza argumentos convincentes que nos convidam a pensar a respeito do que é considerado legítimo no sistema educativo, assim como os motivos pelos quais essa legitimação é efetivada e repassada nas salas de aula.

A autora divide o texto em duas partes. Na primeira, discute a natureza da relação entre as classes, apresentando um histórico das transformações que a sociedade pôde experimentar desde o sistema feudal até as revoluções burguesas, sendo as últimas responsáveis pela redefinição dos paradigmas sociais. No entanto, segundo a autora, existe um jogo de palavras em relação aos conceitos de “liberdade” e “igualdade” propostos pela nova classe dominante: a burguesia sempre proclama o ideal da igualdade ao mesmo tempo em que organiza uma desigualdade real (ORLANDI,1995, p.59). A partir desta afirmação, ela sugere que dentre os vários campos em que esta realidade separatista é instaurada está o da educação, que passa a ser um instrumento de dominação. Nestes termos, torna-se uma educação de classe, o que responderia a questão “De quem é a educação?” como: é a da classe dominante do sistema capitalista, com as suas finalidades.

Ainda nessa parte do texto, a autora questiona a legitimidade do conhecimento que é estabelecido como verdade e reproduzido nas salas de aula. Ela parte da premissa de que um determinado conhecimento (ou modo de percepção do mundo) é indicado pela classe dominante, tutora do poder, e legitimado pela classe média, servindo como instrumento para sua elevação social. Apenas resta para a classe dominada aderir ao que lhes é imposto. Dentre essas diversas formas de saber (conhecimentos) está o saber letrado, sendo ele não partilhado, mas distribuído socialmente (ORLANDI,1995, p.62). Desta forma não é possível uma discussão sobre o que lemos e aprendemos. Pelo contrário. A absorção do que nos é imposto se faz necessária para um tipo de defesa (leitura pragmática), impedindo-nos de ter uma consciência crítica e poder, assim, contestar essa realidade.

A segunda para do texto nos transporta ao universo escolar, convidando-nos a observar a relação leitor/texto/autor na escola. O mediador desse processo nesse ambiente é o professor, uma vez que, na pedagogia tradicional, seu saber e objetivos são “dominantes” em relação ao saber e aos objetivos do aluno. Em relação a interação da leitura escolar e o fato de que essa relação resulta em transformação, é necessário que seja dado ao aluno um espaço para que ele mesmo elabore sua relação com a leitura. Sendo assim, o método de ensino deve apenas proporcionar condições para que esse processo seja aplicado e desenvolvido.

A autora é bem enfática quando afirma que o método não se deve sobrepor ao processo, mas se articular com ele. Sendo assim, para fazer com que o aluno tenha um conhecimento crítico, o professor deve colocá-lo em contato com textos, bibliotecas, arquivos, coleções, recortes etc., e motivá-lo a uma leitura polissêmica dos mesmos, diferentemente do método tradicional, que impõe uma leitura parafrástica (reprodução de sentidos previstos para um texto). Essas condições de ensino oferecidas aos alunos das classes populares permitirão que esta possa se construir e se representar na sua história de leitura, que a classe dominante desconhece (ORLANDI,1995, p.71).

Ademais, como opinião sobre o compêndido, posso afirmar que este se mostra muito coerente com o contexto em que vivemos e muito esclarecedor, tanto do ponto de vista expositivo quanto utilitário, cumprindo com a proposta que sugere desde início: elaborar soluções pedagógicas práticas para a mudança da realidade que descreve em seu cerne. Também nos ajudou a entender o papel que, como educadores, devemos desempenhar em busca da construção de novos paradigmas sociais que podem ser iniciados na escola, lugar tão comum e tão simples, mas fundamental para que qualquer mudança possa realmente ser estabelecida.


REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS

ORLANDI, E.P. Leitura: De quem para quem? In ABREU, M. Leituras no Brasil: antologia comemorativa pelo 10º Cole. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995. p. 57-71.

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By: Pedro Felipe

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A vida e a terra

Oi pessoal,

Remexendo em alguns antigos arquivos que pairavam nas profundezas do meu computador, encontrei esse texto que fiz em homenagem aos trabalhadores rurais da minha cidade natal, Araçagi. Como ainda não o tinha mostrado a ninguém, gostaria de dividir com vocês essa reflexão tão simples e humilde, mas que traz em si uma mensagem que realmente vale a pena.

A vida e a terra

A roça plantada
da terra arada, quebrada
pela enxada que bate
a terra e planta
a vida.

Vida arada
das mãos que sustentam
o cabo, que puxam
do mato o trato
pra viver,
comer.

Labuta marcada tenta dar
pelo suor que cai
e esvai
pelas rachaduras
das mãos ou do chão?

O sol que é guia
relógio do dia
lhe faz saber,
o que comer,
crer, sofrer
por não ter.

Não sabe se tem,
não sabe se vem.
Que Deus abençoe
Que chova e aguoe
Que a terra permita
a vida.

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By: Pedro Felipe